NCH - Núcleo de Ciências Humanas

HOMENAGEM POR GRACILENE, PEDAGOGA!

(Vítima COVID-19, 01 de agosto de 2020)

ESTUDANTES DE PEDAGOGIA - TURMA 2015.1 – PORTO VELHO

 Depois de 22 dias internada na UTI, sedada e intubada por conta do COVID-19, a acadêmica do Curso de Pedagogia, Campus de Porto Velho, GRACILENE PINHEIRO DE ASSIS, veio a óbito, na madrugada do dia 1 de agosto de 2020. GRACILENE, ou “Dona Gracilene” – que constantemente pedia que retirássemos o “Dona”, como forma de tratamento – ingressou no curso de Pedagogia da UNIR em Porto Velho, no ano de 2015. Para alguns, esse é um feito “indigno” de registro, dada a pouca estima social dispendida aos cursos de licenciatura, porque refletem quase sempre em baixa remuneração e más condições de trabalho.

Para Dona GRACILENE ser discente de uma Universidade Federal e do curso de Pedagogia era algo ostentado com muito orgulho e, para nós, seus amigos e colegas, uma lição. E por isso, sua mensagem preocupada antes de ir para a UTI era de que iria concluir seu TCC, única disciplina que lhe faltava para concluir. Todos sabíamos que para muitas pessoas que concluíram o ensino médio há muitos anos (como era o caso dela) há um sentimento de impotência quando pensam no ensino superior. Acreditam que se trata de um espaço que não poderia ser mais ocupado por elas, que “passou o tempo”, que não dariam “conta”.

GRACILENE concluira seus estudos havia muito tempo (não sabíamos ao certo) e também se viu diante dessa barreira, mas a superou. Alem disto, houve também o desafio em superar a imensa tristeza pela morte de uma filha e a imobilidade e ausência de sentido que tal perda traz a qualquer pai ou mãe. Apesar disto, no curso de Pedagogia, sentia uma oportunidade de superar a dor e compartilhar seu afeto com seus companheiros de turma, sem nunca ter vergonha de expor tal situação aos seus pares.

GRACILENE era mãe, dona de casa e servidora pública. Fazia, como muitas outras mulheres, jornada dupla ou tripla, cuidando de sua família, trabalhando na extenuante função de gari, cuidando da limpeza das áreas públicas do município, sem que algum dia a tivesse impedido de frequentar as aulas, apresentar seus trabalhos acadêmicos, frequentar estágios e, sobretudo, compartilhar suas experiências, amor e cuidado com os demais discentes. Encontrou muitas outras dificuldades ao longo do curso, mas nunca desistiu e nunca teve vergonha de pedir ajuda. GRACILENE semprefoi, verdadeiramente e sem exagero ou pieguice, uma lição. Do início ao fim. Tinha a marca da amorosidade, reconhecida por nosso patrono (Paulo Freire) como uma das maiores e mais importantes marcas de quem ensina. Certamente teria se tornado uma excelente professora e cada aluno que tivesse a oportunidade de aprender e ensinar com ela teria tido um raro privilégio e um excepcional exemplo a ser seguido.

Acompanhamos, durante semanas a luta de nossa amiga contra o COVID-19 e a vimos perder a batalha, juntamente com outras 90.000 pessoas, também vitimadas pela mesma doença e descaso das autoridades. Gostaríamos, agora, de tê-la não só como colega de curso, mas, também, como colega de profissão, como homenagem mínima à sua memória. Sua morte é uma tragédia para todos que a conheceram e acompanharam.

Gostaríamos que sua marca nessa vida acadêmica não fosse a sua morte, uma “nota de pesar” emitida pela Universidade da qual tinha tanto orgulho de pertencer. Por isto, estamos unidos em conceder-lhe, simbolicamente, o grau de Pedagoga como justiça a sua trajetória, pessoal e acadêmica, o que atenuaria a dor de familiares, que ao longo de anos testemunharam sua dedicação aos estudos, e confortaria seus amigos e colegas de turma, que não puderam se despedir de alguém que lhes devotou tanto carinho e atenção ao longo do curso e, nas regras da instituição, cumpriria em 2020.1, interrompido pela pandemia.

Porto Velho, 1 de agosto de 2020

 Acadêmicos Pedagogia Porto Velho – Turma 2015.1

Formados e Formandos